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🔵🟢 Quando a Esperança se Torna Moeda de Troca (filme 11/48)

  • Foto do escritor: André
    André
  • 23 de jul.
  • 4 min de leitura

Reflexões sobre fé e poder.


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Vídeo/Imagem: site intercept brasil



Eu sempre achei que a fé, o acreditar em algo/alguém, fosse uma das coisas mais íntimas que o ser humano pode carregar. Algo que não se explica em palavras, que mora num lugar profundo dentro da gente. Mas quando assisti ao documentário Apocalipse nos Trópicos, da Petra Costa, percebi o quanto esse sentimento tão pessoal pode ser sequestrado, distorcido e transformado em ferramenta de manipulação.


Não é um documentário qualquer. É um sacode que faz a gente parar para pensar sobre o país, sobre as escolhas que as pessoas fazem, e até sobre as nossas próprias crenças. O que vi não era só política. Era um retrato do quanto podemos perder de nós mesmos quando entregamos o que temos de mais sagrado nas mãos erradas. E isso mexeu comigo. Porque, no fundo, todo mundo está tentando encontrar um caminho, uma razão, um norte. Mas e se esse norte for usado contra nós?


A Petra não faz rodeios. Ela joga luz direta no que está acontecendo: a transformação da fé em uma moeda de poder. A fé que deveria curar, acolher e dar sentido, aparece sendo usada como instrumento de controle social. A cada cena um incômodo. Como se estivessem roubando algo que, para muitos, é tudo o que resta. E estão roubando. Lembro de uma parte em que líderes religiosos apareciam defendendo abertamente projetos políticos em nome de Deus. Não era mais um discurso espiritual, era propaganda. E nesse momento eu pensei: onde está a linha que separa a fé verdadeira da manipulação? Será que ainda existe? Acho que não.


O documentário me fez perceber que quando religião e política se fundem dessa forma, algo muito perigoso acontece: o diálogo morre. Porque quem questiona passa a ser visto não como alguém que pensa diferente, mas como um inimigo do divino. E aí não tem debate, não tem escuta, não tem construção. Só sobra imposição.


Enquanto eu assistia, ficava lembrando de quantas vezes já vi pessoas próximas se apegando a promessas que nunca se realizam. Promessas de prosperidade, de milagres, de soluções mágicas para problemas que são, na verdade, estruturais. É cruel. Porque a fé é justamente o que dá força para muita gente acordar todo dia. E quando ela é usada como isca, sobra desilusão. Eu mesmo já busquei respostas na fé em momentos de incerteza. Já me agarrei a ela quando parecia que nada fazia sentido. Mas ver como isso é manipulado em escala nacional me fez refletir: será que a gente não precisa aprender a ter uma fé mais consciente? Uma fé que fortaleça, mas que também questione? Talvez o maior desafio seja esse: acreditar sem se deixar dominar. Ter esperança sem se tornar refém dela.


Essa reflexão não ficou só no filme. Trouxe para mim algo muito maior: a importância de não viver no piloto automático. É fácil cair na tentação de deixar que outros pensem por nós, que decidam por nós. Mas a vida pede coragem para questionar, para desconfiar do óbvio, para enxergar além da superfície. Eu percebi que o que Petra mostrou na tela é, de certa forma, um espelho do que acontece na vida pessoal de cada um. Quando a gente entrega nossa voz para alguém falar por nós, perdemos parte de quem somos. Quando deixamos de duvidar, deixamos de crescer. E aí eu conecto isso ao que tenho tentado construir para mim: um caminho mais consciente, mais atento, onde eu não aceito respostas prontas. Onde eu escolho ouvir, refletir, ponderar. Onde a fé e a razão podem andar juntas, sem que uma anule a outra.


O que mais me marcou foi enxergar a esperança sendo usada como mercadoria. Isso me revolta. Porque esperança não deveria ser vendida. Esperança é algo que nasce dentro, é o motor que faz a gente continuar. Quando ela é colocada num palanque, perde sua essência. O filme mostra isso de forma brutal: líderes usando o nome de Deus para justificar decisões políticas que só beneficiam alguns poucos. Enquanto isso, milhares continuam esperando por um milagre que nunca vem. É uma promessa de céu para legitimar injustiças na terra. E eu fiquei pensando: quantas vezes na história já não vimos isso se repetir? Quantas vezes a religião não foi usada como escudo para o poder? É um ciclo que parece interminável. Mas será que não é justamente a consciência que pode quebrar esse padrão?


Se eu pudesse resumir Apocalipse nos Trópicos em uma palavra, seria “incômodo”. Não é o tipo de filme que você assiste para relaxar. É um filme que cutuca, que desafia, que tira o chão. Mas talvez seja exatamente disso que muitas pessoas precisem. A Petra tem essa coragem: ela não coloca uma lente suave sobre a realidade. Ela mostra as fissuras, as contradições, as feridas. E, de certa forma, isso me dá esperança — não a esperança manipulada, mas a esperança real, que nasce da consciência. Finalizei o documentário mais crítico do que eu já era, mais atento, mais decidido a não aceitar discursos prontos. E isso, para mim, já faz valer a experiência.


O que fica para mim é que a fé não precisa deixar de existir. Muito pelo contrário. Mas ela precisa ser nossa, pessoal, íntima. Não pode ser sequestrada por quem busca poder. A fé deve ser ponte, não corrente. Deve ser força, não grilhão. E a política, essa sim, precisa ser constantemente questionada. Porque quando ela se esconde atrás do sagrado, deixa de servir ao povo e passa a servir a si mesma. Assistir a Apocalipse nos Trópicos me fez reafirmar um compromisso interno: viver de forma mais consciente, mais atenta, sem entregar minha voz de bandeja. Talvez esse seja o caminho mais difícil. Mas também é o mais verdadeiro.


No fim das contas, uma mistura de indignação e esperança. Indignação por ver como a fé pode ser usada para dominar. Esperança por acreditar que cada um de nós pode escolher enxergar além da cortina de fumaça. E talvez seja esse o grande aprendizado: a fé pode continuar sendo um refúgio, mas nunca deve ser uma prisão.


Acredito no real, no concreto, na fé.....que nos move.


Avaliação pessoal (notas 0/10):


  • Direção: 8

  • Roteiro: 9

  • Fotografia: 7

  • Trilha Sonora: 6

  • Mensagem: 10

  • Nota Final: 8


Até semana que vem! 🙏🏽🎦

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