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🟡 Entre Copos e Lágrimas: Uma Imersão no Mundo do Alcoolismo

  • Foto do escritor: André
    André
  • 27 de fev.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 26 de mar.

A jornada de um observador: reflexões sobre o álcool, o alcoolismo e a busca pela sobriedade


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Imagem/foto: arquivo pessoal



Saudações!


Não sou alcoólatra, mas minha relação com o álcool começou cedo, aos 13 anos em uma festa de aniversário de uma amiga, lá pra 6ª série do ensino escolar, e já se estende por 32 anos. Nos últimos anos tive cervejaria e bar, então conheço o lado de lá do balcão. Mas também conheço, e aprecio, o lado pessoal e gostoso, o prazer de um bom vinho, a descontração de uma cerveja gelada, a conversa que flui com um whisky.


Sei que para muitos, essa presença se torna um problema, uma doença. O alcoolismo é uma realidade devastadora, que destrói vidas e famílias.


Nos últimos 50 dias, o projeto X365 me levou a conhecer de perto essa realidade. Visitei sete grupos de Alcoólicos Anônimos (A.A.) nas cidades do ABC Paulista. E o que vi e ouvi me marcou profundamente. As reuniões eram simples: uma sala, de 10 a 20 cadeiras, pessoas sedentas por compartilhar suas histórias. Paulo, Carlos, Maria, José e Antônio, nomes fictícios, mas histórias reais. Cada um com sua luta, suas recaídas, seus momentos de esperança.


Eles falavam sobre os anos de vivência perdidos com os filhos, os empregos abandonados, amigos e membros das famílias que se afastaram. O uso de outras drogas: maconha, cocaína, prostituição.....falavam sobre a vergonha, o arrependimento, a solidão. E falavam sobre a esperança, a força para se manter sóbrios "só por hoje", como diz um dos seus principais lemas.


Um dos relatos que mais me marcou (pois é bem comum no dia a dia de qualquer pessoa) foi de um homem de uns 65 anos, cabelo branco, cerca de 85kg, que desabafou +/- assim, entre suspiros e muitas pausas:


"Hoje tive uma decepção, era algo que eu não contava, me atingiu como um soco no estômago, um baque que me fez cambalear. A primeira reação foi buscar refúgio no álcool. A garrafa, a velha companheira de fuga, me chamava mais uma vez, com sua promessa de esquecimento. Mas hoje, eu escolhi a sobriedade. "Só por hoje", o mantra que nos guia, ecoou na minha mente. A luta foi difícil, a tentação foi grande, esquecer meu problema na garrafa, mas a cada minuto resistido, a cada gota que não consumi, eu me fortaleci.


Hoje, "só por hoje", eu venci a batalha contra o álcool.


No entanto, a luta contra os vícios é a minha sina dos últimos anos e será para os próximos também. O cigarro, a outra droga do mal, me ofereceu (e ainda oferece) um consolo. O cigarro, meu velho cúmplice, como não tenho mais o álcool, ainda me "ajuda", me dá a falsa sensação de controle. Mas a verdade é que ele também me escraviza, me rouba a saúde, me impede de respirar a vida e conviver com meus netos. A decepção que passei hoje me mostrou, mais uma vez, minha fragilidade mas também a minha força, e a necessidade da vigilância constante. A vitória sobre o álcool eu já tenho há 4 anos, mas a luta é diária. Agora, a luta contra o cigarro é a próxima batalha, um desafio que enfrentarei com a mesma determinação, a partir de amanhã.


"Vou ficar sóbrio", essa é a afirmação que nos impulsiona. A cada dia, a cada cigarro não aceso, a cada desejo sufocado, me aproximo mais da minha liberdade e também da minha família.


A sobriedade e a saúde me esperam....evitar o primeiro gole e o primeiro trago, só por hoje".


A simplicidade e a honestidade de todos os relatos me emocionaram. A dor era palpável, a luta era constante, diária, mas a esperança também estava presente. E eu, ali, como um observador privilegiado, me sentia grato por poder testemunhar a força daquelas pessoas. Dei meu relato somente uma vez, enquanto consumidor por 32 anos e proprietário do negócio por 8 anos. As reuniões duravam cerca de duas horas, com um intervalo para café e bolachas. Eram duas horas de desabafo, de compartilhamento, de apoio mútuo. Eram duas horas que me faziam refletir sobre a relação do álcool com o ser humano e a sociedade como um todo. Não condeno, pois sou um consumidor, mas é inegável a destruição causada naqueles que sofrem com a doença do alcoolismo.


No A.A., encontrei um espaço seguro, onde as pessoas podem se abrir sem medo de julgamentos. Um espaço onde a espiritualidade era o pilar central, não a religião. Um espaço onde a esperança renascia a cada "só por hoje".


Os grupos são mantidos pelos próprios membros, que contribuem com doações para pagar o aluguel, contas do mês e café. São pessoas simples, com histórias complexas, que se unem para lutar contra um inimigo comum: o alcoolismo. A experiência no A.A. reforçou em mim a importância da moderação, do equilíbrio, a importância de não deixar que o prazer se transforme em vício. E me fez admirar, profundamente, a coragem daqueles que lutam diariamente contra o alcoolismo, que buscam a cada dia a sobriedade, a paz interior, a reconstrução de suas vidas.


A verdade nua e crua ecoou em cada relato, cada lágrima, cada sorriso frágil. A doença escancarada, a coragem de se assumir, a luta diária pela sobriedade. Homens e mulheres, sem máscaras, sem julgamentos, apenas a busca pela vida. No A.A. não há hierarquia, somente aplausos e a força da união. A dor compartilhada, a esperança renovada, a fé no "só por hoje". A simplicidade me ensinou mais que qualquer livro, a humildade me tocou mais que qualquer discurso.


Vou estar lá novamente, não como espectador, mas como companheiro de jornada. Um ombro amigo, um ouvido atento, um coração aberto. A admiração se transformou em compromisso, a compaixão em ação. O A.A. é um farol na escuridão, um porto seguro para almas perdidas. A força da vulnerabilidade, a beleza da imperfeição, a redenção na sobriedade.


Sigo com vocês, na esperança de um amanhã mais leve, mais humano, mais vivo.


Sobre o Alcoólicos Anônimos


Em um mundo onde o alcoolismo ainda é um tabu, existe uma irmandade que oferece esperança e recuperação: o Alcoólicos Anônimos (A.A.). É formado por grupos de pessoas que compartilham suas experiências, forças e esperanças para superar o problema comum do alcoolismo.


O único requisito para ser membro é o desejo sincero de parar de beber. Não há taxas ou mensalidades, é autossuficiente, se mantém através das contribuições dos próprios membros. O A.A. não está ligado a nenhuma religião, grupo político ou instituição, e não se envolve em controvérsias. O foco principal é permanecer sóbrio e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade.


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Imagem/foto: arquivo pessoal


O programa de recuperação se baseia nos 12 Passos, princípios espirituais que, quando praticados, podem libertar da obsessão pela bebida. As 12 Tradições, por sua vez, guiam a irmandade, garantindo unidade e sua relação com o mundo exterior. O livro "Alcoólicos Anônimos" é a base do programa, compartilhando histórias de recuperação e os princípios que os guiam.


O anonimato é um pilar fundamental em A.A. Nos primeiros dias, o estigma do alcoolismo era ainda maior, e o anonimato protegia seus membros. Hoje, ele garante que novos membros busquem ajuda sem medo de julgamentos ou exposição pública. Além disso, o anonimato os protege do reconhecimento pessoal e do poder, evitando que os mesmos problemas que afligem outras organizações os atinjam. Sua eficácia depende da confiança e da segurança que o anonimato proporciona.


Se você ou alguém que você ama luta contra o alcoolismo, saiba que o A.A. pode ser a solução. Já ajudou milhões de pessoas a parar de beber, compartilhando suas experiências e oferecendo apoio mútuo. A recuperação é possível, e o A.A. é um lugar onde você encontrará compreensão, esperança e a força para construir uma vida sóbria e digna. Junte-se a eles e descubra que a sobriedade é um caminho que pode ser trilhado juntos.


Seguimos! 👊

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